Sexta-feira de manhã
Pela quinta vez consecutiva na semana, o casal acorda cedo, toma café da manhã, conversa sobre algumas amenidades, toma banho e se arruma para ir trabalhar. O homem veste sua roupa social bem passada, calça seus sapatos, penteia seu cabelo e passa um desodorante e um perfume bem cheirosos.
A mulher fica dez minutos olhando para o guarda-roupa aberto, escolhendo uma combinação que ainda não tenha usado naquela semana, se veste, se olha no espelho, troca de roupa, faz escova no cabelo, capricha na maquiagem e no perfume, calça seu sapato alto e pega sua bolsa.
Os dois se preocupam com colocar roupas íntimas e meias impecáveis, afinal “vai que eu passo mal na rua e precisam tirar meu sapato ou minha roupa. Não podem ver que eu uso meia furada!”
O casal se despede com um beijinho estalado (para não tirar o batom da mulher), e cada um vai para seu trabalho.
O homem já começa o dia supersatisfeito ao entrar no escritório dando “bom dia” para todos e ouvindo como resposta “Hum, como você está cheiroso! Bom dia!”.
Antes de sair para o almoço, a mulher passa no banheiro para retocar a maquiagem e se pentear. E sente seu ego inflar mais e mais a cada olhada ou cantada que recebe no caminho para o restaurante.
O homem dá cerca de dez viradas de pescoço no caminho de ida e volta do almoço, ao admirar outras mulheres passando pela rua com seus vestidos curtos ou suas calças compridas apertadas.
Quando chega a hora de ir embora, ambos comemoram pelo início do fim de semana, quando poderão passar mais tempo juntos, se curtindo.
Sexta-feira à noite
A primeira coisa que os dois fazem quando chegam ao lar, doce lar, é tirar aqueles sapatos apertados, jogá-los num canto, despir-se da linda roupa de trabalho, colocá-la no cesto de roupa suja e, após tomar um banho relaxante… ambos pegam aquela roupa de ficar em casa toda larga, cheia de furos, de tão velha, afinal “agora que estou na minha casa, posso me vestir da forma mais confortável possível”. Se bobear, nem desodorante passam, quanto mais aquele perfume caríssimo, exclusivo para ir trabalhar. Para completar a sensação de conforto, a mulher faz um coque preso com uma caneta que pegou largada pela casa.
E é com essa mesma roupa – larga, velha e furada – que os dois passam o fim de semana inteiro “se curtindo”: o homem, jogando videogame e assistindo futebol na TV, e a mulher, reclamando em seus grupos das redes sociais que seu marido não a elogia nem nota sua beleza.
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Agora vamos refletir: será que faz sentido nos arrumarmos com tanto cuidado e dedicação para pessoas que nem conhecemos direito, enquanto deixamos esse cuidado todo de lado ao nos “arrumarmos” para ficar ao lado da pessoa que amamos?
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